quarta-feira, 8 de junho de 2011

Brasil 'outorga impunidade a desmatadores da Amazônia', diz jornal.

'El País', da Espanha, engrossa críticas da imprensa estrangeira à aprovação de mudanças no Código Florestal.

O jornal espanhol "El País" traz nesta quinta-feira (26) uma reportagem sobre a mudança do código florestal aprovada na Câmara dos Deputados na terça-feira à noite, com o título "Brasil outorga a impunidade aos desmatadores da Amazônia".
A reportagem, que adota um ponto de vista crítico à aprovação, ressalta que a medida é mais uma "vitória do setor rural sobre o ambiental" dentro da lógica política do país.
"Mais uma vez fica claro quem manda no Brasil quando os interesses dos latifundiários estão em jogo", escreve o correspondente do jornal no Rio.
"O todo poderoso setor agropecuário brasileiro mantém sob controle a Câmara dos Deputados através de uma densa rede de apoio nos partidos majoritários, incluindo o Partido dos Trabalhadores (PT), do governo. Mais do que nunca ficou claro o poder de pressão que o campo brasileiro continua tendo nos despachos de Brasília", ele afirma.
Para o correspondente do jornal, "as imagens do Congresso após a polêmica votação eram inquietantes: dezenas de deputados se abraçando eufóricos e fazendo o sinal de vitória".
"Na mesma manhã, o Brasil se despertava com a notícia do assassinato, a tiros, do líder ambientalista João Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, ambos os ativistas mortos pela preservação do Amazonas. Da Silva havia denunciado que sofria ameaças de morte por parte de madeireiros e pecuaristas do Pará, onde vivia. Os mesmos que provavelmente brindaram à aprovação do novo código."
Jornais criticam
O relato do jornal espanhol ilustra o tom crítico adotado na maioria dos artigos veiculados na imprensa europeia e americana sobre o assunto.
Na Grã-Bretanha, o jornal "The Independent" titulou: "Corte e queima: Brasil rasga a lei que protege as suas florestas".
O periódico britânico dedica ao tema uma dobra de página e uma fotomontagem com imagens e gráficos, indicando que "a Amazônia segue ameaçada".
Como outras publicações, o "Independent" se debruça sobre os efeitos de uma possível concessão de anistia aos fazendeiros que, no passado, desmataram suas terras em maior escala que o permitido pela legislação.
A reportagem cita o renomado ambientalista Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ouvido pela agência Associated Press.
"A proposta de anistia dá continuidade a uma longa tradição brasileira, de legalizar o ilegal. As pessoas acham que podem desmatar ilegalmente porque mais cedo ou mais tarde serão perdoadas", diz Fearnside.
A mesma declaração é reproduzida também no espanhol "ABC", para quem os deputados "ignoraram as pressões dos ecologistas e passaram como um trator sobre a opinião pública".
A reportagem do diário de Sevilha descreve o código como "a gênese de um gigantesco ambiental", atribuindo a avaliação aos ambientalistas.

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